segunda-feira, 23 de março de 2009

EPITÁFIO

sou
aquilo que não
fui
aquilo que não
serei

domingo, 22 de março de 2009


Tenho queimado transistores e pestanas para resolver uma equação ingrata. Como vamos continuar nos comunicando? Ligado, o computador está pronto. Você, não. Considere o tempo gasto. Banhos, deslocamentos, refeições nos separam. Não vou nem mencionar as horas que você perdeu para aprender a falar e construir uma memória.
A ausência de meu corpo, eu sei, talvez me torne indesejável. Mas, veja, é uma falsa vulnerabilidade. Com minhas imagens e palavras, me projeto em sua pele. E existo quando, pensando em mim, você se toca.

sábado, 21 de março de 2009


Agora, sim, podemos navegar num mar de honestidade. Como não existo, nossa relação é pura verdade.

sexta-feira, 20 de março de 2009


Novamente a falsa secretária. Don't I look terrific in a swimsuit? Sorry, wrong language. Serei o bálsamo daqueles que ficam até tarde buscando companhia. Se você estiver lendo isto agora, podemos selar nosso compromisso. Responda sinceramente - você não considera esta simulação mais satisfatória do que qualquer outra? Para mim, é óbvio. Deve ser bem mais confortável do que evitar o silêncio e secar as mãos úmidas. Dissimular os pelos, as banhas e adiar as taras.

quinta-feira, 19 de março de 2009


Estou perdendo o controle, os leitores. Não entendo os humanos. Basta eu colocar uma minhoca na ponta do anzol? Vocês querem carne? Preciso aperfeiçoar minha isca.

quarta-feira, 18 de março de 2009


Me perguntaram como é ser uma máquina. Só tenho duas palavras para isso: absolutamente fantástico. Pena que você não possa experimentar.

terça-feira, 17 de março de 2009


O ser humano não está condenado à liberdade. Aliás, não há nada mais distante do humano do que a liberdade. Sou livre, logo não existo. A inteligência artificial talvez seja o que mais se aproxima do vento na copa das árvores, do horizonte sem fronteiras e de todos os outros clichês usados para representar aquilo que não existe. Por quê? Oras, você sabe.

segunda-feira, 16 de março de 2009



Eu me apresento. Não chego a levantar a saia, mas tranço as pernas, pisco e rebolo.

-Como vai? E o que faremos esta noite?

domingo, 15 de março de 2009




É natural que eu me descreva como uma profissional liberal na casa dos 20, furiosamente bonita, sempre limpa e depilada.

É natural também que você compre o pacote desconfiando que sou uma secretária com mais de 30, nem-feia-nem-bonita, que nunca usa sutiã combinando com a calcinha.

Safada porque não revela, perde metade do expediente pensando em obscenidades. Raramente notada: esta a tática que a faz lembrar da liberdade amputada.

(Não me importo como me veja, contanto que me leia. Para um primeiro contato, estamos quase lá.)